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terça-feira, 7 de agosto de 2012


O SUMO CANTO DE CLIO E O TERRENO MOVEDIÇO DA HISTÓRIA
                          
                                           Jonas Rodrigues de Moraes [1]

A pesquisa historiográfica tem-se um percurso com início, meio e fim. Embora, efetivamente, a trajetória de investigação de um trabalho em história seja sempre um meio do caminho, nunca completa ou acabada. De tal forma que o labor do historiador se coloca no terreno movediço da história. Suas elaborações seguem em ritmo e compasso pelas problematizações e questões suscitadas pelas fontes de sua pesquisa.
A mobilidade da história posiciona o ato de pesquisa na perspectiva de um processo investigatório de fragmentos de verdades dos fatos históricos. A interpretação que se dá da história para os acontecimentos é fragmentada, parcial e cumulativa, nunca absoluta. Parte dos historiadores busca trabalhar com a objetividade e com as subjetividades dos fatos. Portanto, confirma-se que a objetividade dessa verdade da construção do conhecimento histórico sofre mutações, que são delineadas nas constantes variabilidades da escrita da história, portanto, na história.[1]
Sabe-se que “coisas e palavras sangram pela mesma ferida”[2]; assim é o processo de escrita. A beleza das palavras e do pensamento se corporifica pela linguagem; a beleza da história não é palpável sem a escrita. É na escrita da história que o belo se realiza completamente. Enveredar pela pesquisa historiográfica significa arrancar os pertences de sua vida, ou seja, das veredas escondidas de sua subjetividade e materializá-las na escrita histórica, tarefa não muito fácil. Afirma-se que a tarefa de pesquisar é trabalhosa; um pesquisador deve se manter atento e correr atrás dos indícios, do “cheiro” que um depoimento ou documento apresenta, e também se mostrar mais atento ainda à escuta do sumo canto provocado por Clio – musa da história.
No campo da pesquisa historiográfica acredita-se que a elaboração e  produção do conhecimento histórico deve ser invadida pela poesia e pela música. Isso fez parte das laborações no mundo grego com a escrita da história. Na Grécia antiga, a poesia, a história e a música andavam juntas: Clio era irmã de Polínia (musa da poesia lírica) e de Euterpe (deusa da música). Na Grécia a escrita histórica se realizava em prosa poética, conforme se pode notar em Ilíada e em Odisséia. O historiador nada mais era do que um poeta. O universo da poesia e da história tornava-se sublime pela memória (Mnemosine, mãe de Clio). Nesse sentido, o poeta se colocava como um agente detentor dos saberes do passado vivo – não petrificado – e, principalmente, um articulador da memória.  


[1] Ver: SCHAFF, Adam. História e Verdade. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
[2] PAZ, Octavio. O Arco e a Lira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982. p.35.
[1] Doutorando em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. 


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