O
SUMO CANTO DE CLIO E O TERRENO MOVEDIÇO DA HISTÓRIA
Jonas Rodrigues de Moraes [1]
A
pesquisa historiográfica tem-se um percurso com início, meio e fim. Embora,
efetivamente, a trajetória de investigação de um trabalho em história seja
sempre um meio do caminho, nunca completa ou acabada. De tal forma que o labor
do historiador se coloca no terreno movediço da história. Suas elaborações
seguem em ritmo e compasso pelas problematizações e questões suscitadas pelas
fontes de sua pesquisa.
A mobilidade da história posiciona o ato de pesquisa na
perspectiva de um processo investigatório de fragmentos de verdades dos fatos
históricos. A interpretação que se dá da história para os acontecimentos é
fragmentada, parcial e cumulativa, nunca absoluta. Parte dos historiadores
busca trabalhar com a objetividade e com as subjetividades dos fatos. Portanto,
confirma-se que a objetividade dessa verdade da construção do conhecimento
histórico sofre mutações, que são delineadas nas constantes variabilidades da
escrita da história, portanto, na história.[1]
Sabe-se
que “coisas e palavras sangram pela mesma ferida”[2];
assim é o processo de escrita. A beleza das palavras e do pensamento se
corporifica pela linguagem; a beleza da história não é palpável sem a escrita.
É na escrita da história que o belo se realiza completamente. Enveredar pela
pesquisa historiográfica significa arrancar os pertences de sua vida, ou seja,
das veredas escondidas de sua subjetividade e materializá-las na escrita
histórica, tarefa não muito fácil. Afirma-se que a tarefa de pesquisar é
trabalhosa; um pesquisador deve se manter atento e correr atrás dos indícios,
do “cheiro” que um depoimento ou documento apresenta, e também se mostrar mais
atento ainda à escuta do sumo canto provocado por Clio – musa da
história.
No campo da pesquisa historiográfica acredita-se que
a elaboração e produção do conhecimento
histórico deve ser invadida pela poesia e pela música. Isso fez parte das
laborações no mundo grego com a escrita da história. Na Grécia antiga, a
poesia, a história e a música andavam juntas: Clio era irmã de Polínia
(musa da poesia lírica) e de Euterpe (deusa da música). Na Grécia a
escrita histórica se realizava em prosa poética, conforme se pode notar em Ilíada
e em Odisséia. O
historiador nada mais era do que um poeta. O universo da poesia e da história
tornava-se sublime pela memória (Mnemosine, mãe de Clio). Nesse sentido, o poeta se colocava
como um agente detentor dos saberes do passado vivo – não petrificado – e,
principalmente, um articulador da memória.
ótimo texto. Tá lindo o blog, parabéns!
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